Andréa Caldas: “Curitiba é uma cidade pensada para um milhão de habitantes tendo quase dois”

Andréa Do Rocio Caldas, ou simplesmente Andréa Caldas, 54 anos, pode se dizer que cresceu em meio às lutas políticas e sociais desde muito cedo.

Ainda muito jovem, acompanhava seus pais nos comícios pelas Diretas Já!, no calor da reabertura democrática nos anos 80. Sua militância acompanhou sempre etapas de sua vida, chegando a participar depois de formada no Sindicato do Magistério Municipal de Curitiba, o Sismmac, em 1989, e depois se inserindo nas atividades acadêmicas como professora de ensino superior.

Só de militância partidária, Andréa Caldas tem mais de 26 anos, passando boa parte do tempo nas fileiras do Partido dos Trabalhadores (PT), e posteriormente, filiando-se ao Partido Socialismo e Liberdade (Psol), em 2018.

Andréa deverá ser o nome do PSOL para as eleições municipais em outubro, trazendo consigo uma perspectiva diferente do tradicional cenário político curitibano. ”Eu que sempre estive no papel de assessorar candidatos, estou bastante empolgada com essa possibilidade de agora apresentar meu nome para a defesa de um programa de mudanças reais para Curitiba”, disse.

Visão crítica

Em uma entrevista exclusiva, Andréa Caldas enfatizou sua crítica às alianças estabelecidas por parte da esquerda, liderada pelo PT, com o deputado Luciano Ducci. Seu ex-partido deverá firmar uma aliança com o ex-prefeito abrindo mão do protagonismo na chapa para bancar uma frente ampla visando ampliar a base de apoio ao governo Lula na cidade. Para Andréa trata-se de um candidato ”Sem qualquer perfil identificado com pautas históricas da esquerda, votou pelo impeachment da Dilma, apoiou a Lava Jato e hoje se coloca como base de apoio ao governo Ratinho Jr”, criticou.

Para a psolista é fundamental romper com os padrões estabelecidos construídos sobretudo nos anos 80, com uma Curitiba sendo vista como ”cidade modelo”, e, dessa forma, pensar em um projeto urbano renovado. ”Me parece quer as últimas gestões na prefeitura pensam Curitiba como se tivesse uma população de um milhão de habitantes como no passado”, diz.

Com uma voz firme, porém tranquila e segura, Andrea aborda questões cruciais como a gestão do lixo, o modelo de transporte coletivo e a necessidade urgente de investimentos na educação para zerar a fila de espera por creches (cmeis).

Ao falar, Andréa não se encaixa no perfil de uma candidata com discurso puramente identitário, embora não abra mão dessas pautas. Sua abordagem técnica e sólida sobre os problemas sociais de Curitiba revela uma capacidade retórica que foge dos extremos acadêmicos, burocráticos ou excessivamente ativistas.

”Estamos diante de um dos melhores orçamentos da cidade, mas ainda falta vaga na creche, e temos um enorme déficit de moradias populares, é inadmissível. Enquanto o prefeito inaugura 400 casas a demanda é muito maior”, analisa.

Seu foco está na busca por soluções concretas e eficazes, marcando sua estreia como candidata a um cargo executivo com uma visão progressista e programática para a cidade.

Educadora

Seu percurso tanto na academia quanto nos movimentos sociais, ressalta sua identidade como uma mulher de ação e reflexão. Como professora do ensino superior, Andréa contribuiu para a formação de diferentes gerações, disseminando conhecimento e estimulando o pensamento crítico. Ao mesmo tempo, sua participação ativa em movimentos sociais demonstra seu compromisso prático com a transformação social e a defesa dos direitos.

Essa dualidade entre a atuação acadêmica e a militância confere a Andréa uma abordagem multifacetada, sendo uma candidata que buscará dialogar além dos muros da universidade e do centro da cidade, mas buscando se conectar com eleitores onde historicamente a esquerda vem perdendo força, como na região sul.

Para ela, a esquerda precisa resgatar ”esse vínculo com a base e engajar-se em debates significativos sobre o futuro da cidade, buscando soluções que reflitam as necessidades reais das pessoas, mas principalmente, ouvir o povo”.